O bibliotecário, editor e escritor Vagner Amaro se debruçou em quase meio século da literatura brasileira para demonstrar o quanto o racismo impôs (e impõe) entraves aos autores negros e como as obras são símbolos de resistência. O resultado foi o trabalho Vidas negras, vidas literárias (1978-2020): escritoras negras e escritores negros na literatura brasileira contemporânea, que rendeu ao pesquisador o Prêmio CAPES de Tese 2024 na área de Linguística e Literatura.
Para a pesquisa, Vagner elegeu o período de 1978 a 2020. “Ao abordar a vida de escritores negros, faço uma reflexão sobre como essas vidas estão vulneráveis à morte, pela ação do racismo e de uma necropolítica”, explicou Vagner em uma entrevista ao portal da Capes.
“Por fim, realizo uma análise de um repertório da literatura negra brasileira que apresenta uma recorrência de denúncia da vulnerabilidade à morte da população negra e de reivindicação do direito à vida, apontando que o ato de fazer literatura é uma forma de afirmação da vida”, completa.
Na tese, Vagner destaca que os movimentos realizados por grupos de escritores negros, que começaram a ocorrer no final dos anos 1970, não foram considerados em obras da história da literatura brasileira.
“Minha pesquisa reivindica essa inscrição/inserção e alerta que os instrumentos teóricos utilizados para a apreensão do literário precisam se flexibilizar para considerar uma literatura que, por exemplo, se baseia no protagonismo negro, na ancestralidade africana (seja na linguagem, na perspectiva e até mesmo na estrutura narrativa) e no combate ao racismo”, defende o pesquisador.