Um estudo inédito do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e o Caribe (Cerlalc) revela um cenário contraditório: mulheres são maioria no mercado editorial de cinco países latino-americanos, mas ainda lutam por igualdade de salários e oportunidades de ascensão profissional.
O Cerlalc, órgão ligado à Unesco, entrevistou 139 mulheres e 14 homens que trabalham no setor editorial da Argentina, Chile, Colômbia, Guatemala e Peru, e coletou dados de 278 editoras, a fim de traçar um panorama da participação feminina nesse mercado. A pesquisa, realizada entre junho e dezembro de 2023, utilizou questionários online e entrevistas, com foco em editoras de pequena e média escala.
Os resultados apontam para uma clara predominância feminina
Em dois terços das editoras, as mulheres ocupam pelo menos metade dos cargos permanentes, chegando a 75% ou mais em um terço delas. No Chile, a proporção é ainda mais expressiva, com quase metade das editoras tendo entre 75% e 100% de mulheres em cargos permanentes.
Essa forte presença, no entanto, não se traduz em igualdade de condições. A pesquisa do Cerlalc revela que a disparidade salarial é uma realidade, especialmente nas grandes empresas, onde a cultura corporativa tende a perpetuar estruturas de poder que privilegiam os homens. Uma editora argentina entrevistada relata: “Nunca ninguém me disse que por ser mulher ia cobrar menos, mas a realidade é que cobrava menos. Sempre cobramos menos, as mulheres”.
A dificuldade em alcançar cargos de liderança é outro desafio apontado pelas editoras. Apesar de serem maioria na base, a presença feminina diminui significativamente nos níveis mais altos da hierarquia. Essa realidade ilustra o chamado “teto de vidro”, uma barreira invisível que impede a ascensão profissional das mulheres em diversas áreas.
As editoras entrevistadas relatam que, em muitos casos, sentem a necessidade de “provar” sua competência e acumular mais experiência do que os homens para alcançar cargos de liderança. Além disso, observam que as atividades de “lobby” e representação, essenciais para a visibilidade no mercado editorial, são frequentemente dominadas pelos homens.
A pesquisa do Cerlalc, embora não inclua o Brasil, encontra consonância com um estudo inédito realizado neste ano pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) para mapear e entender a mão-de-obra empregada pela indústria editorial brasileira.
O resultado do estudo brasileiro mostra que as mulheres estão em cargos de liderança (líderes de grupos e times, gerentes e até diretoras) em 87% das editoras que responderam ao questionário.
Clique aqui para baixar o estudo do Cerlalc.