A editora Veen Bosch & Keuning (VBK), a maior dos Países Baixos, anunciou que está testando o uso de inteligência artificial (IA) para traduzir livros de autores holandeses para o inglês. A iniciativa surge após a aquisição da VBK pela gigante editorial Simon & Schuster em 2024. O experimento, segundo a VBK, será limitado a um número restrito de obras cujos direitos de tradução para o inglês ainda não foram vendidos.
Um porta-voz da VBK ouvido pelo Bookseller disse que o processo envolve uma única fase de edição humana após a tradução feita pela IA. “Não estamos criando livros com IA, tudo começa e termina com ação humana”, afirmou o representante. Os autores envolvidos no projeto foram previamente consultados e deram consentimento para o uso da tecnologia. De acordo com o portal, a editora ainda não lançou oficialmente as traduções resultantes do experimento.
A notícia gerou preocupações na comunidade de tradutores literários. Em entrevista ao Bookseller, Ian Giles, presidente da Translators Association do Reino Unido, destacou que um terço dos tradutores já perdeu trabalhos para IA. “Se os autores não permitiriam que a IA escrevesse seus livros, por que aceitariam que ela os traduzisse?”, questionou Giles. Ele teme que traduções automatizadas possam comprometer a qualidade e a fidelidade das obras originais.
Por outro lado, defensores da IA argumentam que a tecnologia pode acelerar processos e reduzir custos em um mercado editorial cada vez mais competitivo. No entanto, críticos como Lisa Fransson, tradutora sueca-inglês e autora, alertam que a literatura é uma forma de arte e deve ser tratada com cuidado. “Cada palavra em um livro é escolhida cuidadosamente; passar isso por uma máquina pode desvalorizar o trabalho do autor”, afirmou Fransson.