Green Publishing: o que é isso e por que isso é problema meu?

Notícias – Nespe

No último dia 27, ao atribuir o Prêmio “Deutscher Verlagspreis 24”, Claudia Roth, ministra de Estado da Cultura da Alemanha, declarou “A resposta à crise climática também é uma tarefa da indústria editorial”.  Isso porque o prêmio ganhou uma nova categoria, que dá reconhecimento ao trabalho de editoras interessadas em exercer o “Green Publishing”.

Mais do que uma tendência, o “Green Publishing” é uma necessidade urgente, uma resposta da indústria editorial à crise climática global. Editoras ao redor do mundo estão adotando práticas mais sustentáveis em suas operações diárias, desde o uso de materiais recicláveis até a transformação dos processos logísticos e de produção.

Para enfrentar esses desafios, é essencial compreender as alternativas verdes já disponíveis e os impactos que essas escolhas podem trazer, não apenas para o meio ambiente, mas também para a própria sustentabilidade da indústria editorial.

Editores e o impacto ambiental 

O uso de papel pela indústria editorial já é ecologicamente correto, com o uso de papeis certificados. No entanto, há outras preocupações no processo de produção de livros. Por exemplo, o uso de plástico nas embalagens e a emissão de carbono no transporte dos exemplares.

No Brasil, onde o tamanho continental do país exige uma complexa logística de distribuição, a queima de combustíveis fósseis para transporte é um dos grandes vilões ambientais.

Pensar globalmente e imprimir localmente

A tecnologia de Print on Demand (POD) pode ser uma solução inovadora e eficiente nesse cenário. Com o POD, é possível imprimir os livros localmente, em vez de transportá-los em grandes distâncias, o que diminui significativamente a pegada de carbono associada ao transporte.

Em 2021, a HP – uma das principais fabricantes de equipamentos e suprimentos gráficos do mundo – publicou um documento com recomendações para editoras interessadas em buscar uma cadeia de suprimentos mais ecológica.  “As editoras de livros devem tomar medidas diretas e claras para mitigar o impacto prejudicial das práticas comerciais, implementando novos sistemas ambientalmente responsáveis”, diz o documento.

O documento é claro ao indicar um re-design inteligente dos processos de impressão, trocando a impressão para estoque pela impressão por demanda, sugerindo às editoras que pensem globalmente, mas imprimam localmente. Isso evitaria custos ambientais com uso desnecessário de matéria-prima e consumo de energia na armazenagem e transporte de livros.

Além disso, a substituição de materiais tradicionais por alternativas ecológicas é um passo fundamental. O uso de papel reciclado, por exemplo, pode reduzir a demanda por recursos naturais, como árvores, e evitar a emissão de gases de efeito estufa. Estudos demonstram que substituir uma tonelada de fibra virgem por fibra reciclada pode evitar a emissão de mais de 2,1 mil quilos de gases poluentes.

Outras opções incluem o uso de tintas à base de vegetais, que emitem menos compostos tóxicos, e a escolha de materiais sustentáveis para as capas e o miolo dos livros, como o papel certificado pelo FSC (Forest Stewardship Council), que garante uma origem responsável e renovável da matéria-prima.

Exemplos brasileiros de Green Publishing  

Alguns eventos literários e editoras no Brasil já estão adotando práticas sustentáveis. A Companhia das Letras, por exemplo, tem neutralizado o carbono emitido na montagem de seus estandes em eventos literários, como as bienais do livro de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em uma parceria com a CarbonFree Brasil, o grupo faz o levantamento da emissão de carbono e o compensa com o plantio de árvores nativas. Na última Bienal do Rio, em 2023, o grupo editorial reduziu o uso de madeira ao montar seu estande completamente com tecidos. Essas pequenas, mas importantes, medidas mostram que é possível alinhar sustentabilidade com participação em grandes eventos culturais.

A Bienal do Livro do Rio também se destacou com suas ações de impacto sustentável. Durante o evento, cerca de 24 mil metros quadrados de carpetes recicláveis, feitos a partir de garrafas PET, foram utilizados nos pavilhões. Após o término da feira, esses carpetes foram recolhidos para serem transformados em novos produtos, como tapetes e capachos. A ação, fruto da parceria entre a GL Events e a All In Eventos, demonstrou que grandes eventos literários podem adotar práticas ecológicas e deixar um legado sustentável. Além disso, todo o material reciclável coletado durante a Bienal foi distribuído a cooperativas de catadores, beneficiando diretamente 45 famílias.

Por que investir no Green Publishing? 

Investir em práticas sustentáveis na indústria editorial não é apenas uma ação de responsabilidade ambiental, mas uma necessidade estratégica. O público está cada vez mais atento ao impacto ambiental dos produtos que consome, e as editoras que adotam práticas verdes podem ganhar a confiança e lealdade dos consumidores. Além disso, a sustentabilidade oferece uma oportunidade para otimizar processos e reduzir custos. A adoção do Print on Demand, por exemplo, além de reduzir o impacto ambiental, também oferece uma vantagem financeira, eliminando o excesso de estoque e o desperdício de exemplares não vendidos.

A crise climática demanda uma transformação profunda nos modelos de negócios de todos os setores, e o editorial não é exceção. Ao adotar o Green Publishing, editoras não apenas contribuem para a preservação do meio ambiente, mas também se posicionam como líderes em inovação e responsabilidade social, fortalecendo sua reputação no mercado.

Portanto, o caminho para um futuro sustentável na indústria editorial passa por escolhas mais conscientes, desde a produção até a distribuição. O Green Publishing não é apenas uma tendência passageira, mas uma mudança necessária para garantir a sobrevivência da indústria e a proteção do meio ambiente para as próximas gerações. Vamos pensar nisso?

Próximas Turmas

Lista de cursos livres

Lista de cursos de pos-graducao

Alguns Colaboradores NESPE

Blog NESPE

Continue lendo outras Notícias

Jabuti desembarca no Rio

Neste dia 23 de abril, celebra-se mundialmente o Dia do Livro e dos Direitos Autorais. A data lembra dois ícones da literatura mundial, William Shakespeare e Miguel de Cervantes, que morreram praticamente juntos. Cervantes morreu no dia 22 de abril de 1616, mas foi enterrado no dia seguinte, mesma data registrada da morte...

Continue lendo

A guerra tarifária de Trump pode afetar livreiros no Canadá

Em resposta ao tarifaço imposto por Donald Trump, o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anunciou um contra-ataque, com tarifas de 25% sobre mais de US$ 125 bilhões em produtos importados dos EUA para o Canadá a partir do próximo dia 2. Em uma carta conjunta, os livreiros da Associação de Livreiros Independentes do...

Continue lendo

Vale Tudo: autora da próxima novela das nove também é editora

Boa parte do Brasil espera, com ansiedade, pela estreia do remake de Vale Tudo, novela originalmente escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères e exibida em 1988. O folhetim vai ocupar o horário das nove horas na grade da TV Globo a partir do dia 31 de março. Manuela Dias é a encarregada por reescrever a...

Continue lendo

Estação da Luz, em SP, recebe exposição sobre Clarice Lispector

Ao longo do mês de março, quem passar pela Estação da Luz, em São Paulo, terá a chance de conhecer um pouco mais sobre Clarice Lispector. É que o Instituto CCR, ligado à concessionária da Linha 4-Amarela, abriu a exposição Projeto Centenários – Clarice Lispector, em homenagem ao ícone da literatura brasileira. Paredes,...

Continue lendo