Bate-Papo com Vitor Tavares

Entrevistas & Ensaios – NESPE

Vitor Tavares é o presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o convidado desta semana para o Bate-Papo do Happy Hour Nespe. Na conversa, ele destaca os maiores desafios vividos pelo setor editorial e livreiro nos últimos anos, faz um balanço da sua gestão, fala sobre a Lei Cortez e dá sua opinião a respeito do futuro da distribuição no Brasil.

Happy Hour Nespe – Você esteve à frente da Câmara Brasileira do Livro em dos mais desafiadores tempos: assumiu em 2019, logo depois do pedido de recuperação judicial de Saraiva e Cultura, e depois veio o enfrentamento à pandemia. Que lições esses dois episódios dão para o ecossistema do livro?

Vitor Tavares – São muitas as lições. Uma das que ficam para as editoras é não colocar todas as suas apostas em alguns canais de venda, temos que evitar a concentração. O ideal é diversificar os pontos de venda, seja físico ou digital. As editoras aprenderam que é melhor diversificar as suas ações comerciais para não serem surpreendidas com o fechamento, problemas de gestão das grandes redes de varejo e outras situações. Hoje existem diversos canais de distribuição para as editoras e fica o aprendizado de que é sempre bom ter seus produtos em bons canais de venda.

Hoje, as editoras estão sempre em busca de bons e experientes distribuidores para que possam comercializar seus livros em outras regiões, além do local sede da editora. Ou mesmo participando de eventos que permitam estabelecer novos pontos comerciais que sejam mais perenes para o negócio.

Mesmo antes da pandemia nós já estávamos com o orçamento equilibrado. Mas a CBL ainda tinha uma dependência muito grande da Bienal do Livro de São Paulo e, com a pandemia não tivemos o evento na data que estava programada. E, também por isso, nos reinventamos: ativamos mais serviços, nos aproximamos dos associados e aumentamos o número de editoras e distribuidores que hoje são associados à CBL.

A pandemia foi um grande desafio para o setor: para entendermos que precisamos nos programar, criar estratégias e planejar para não sermos surpreendidos novamente.

HH – Ao mesmo tempo, na sua gestão, a CBL levantou projetos importantes para o setor: a Agência Internacional do ISBN escolheu a Câmara para ser a sua representante oficial no Brasil; a entidade lançou a sua plataforma de serviços, trouxe soluções para livreiros no momento da pandemia e realizou a “Bienal das bienais”. Faltam poucos meses para você deixar a presidência, o que mais podemos esperar?

VT – Tivemos que adiar a Bienal do Livro de São Paulo, depois de quase pronta, devido à pandemia da covid 19. A realizamos em 2022 e foi surpreendente para todos os envolvidos. Temos muitas coisas a fazer: estamos prestes a realizar o Prêmio Jabuti e o Encontro Nacional de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos.  O portal CBL agora é trilíngue e com novas informações de conteúdo para os associados. Quando participamos de feiras de livros internacionais, a CBL ter o site em Português, Espanhol e Inglês facilita muito a integração e trocas de experiencias com as nações da América Latina e outras partes do mundo.

Atualizamos o Estatuto da CBL para ficar mais moderno, com a transformação digital muita coisa precisou se adequar a esse novo momento mundial. É a CBL cada vez mais na vanguarda da indústria do livro nacional.

Também teremos, em breve, uma parceria na Flip com o PublishNews.  Renovamos o contrato com a ApexBrasil e aumentamos nossa participação em feiras internacionais. Assim podemos representar os editores brasileiros em mais países além dos que já atuamos. Ainda há muito a ser feito.

HH – Recentemente, Dante Cid, presidente do SNEL, esteve aqui conosco e falou sobre uma de suas bandeiras: “ampliação dos programas de inclusão, diversidade e sustentabilidade”. Qual a posição da CBL em relação a este assunto?

VT – No nosso Estatuto, abordamos a sustentabilidade, o ESG, a liberdade de expressão e a inclusão das questões de gênero, com base no Código Civil e na Constituição Federal. Atualizamos recentemente o Estatuto da CBL para atender as demandas e o momento atual do nosso setor e da sociedade.

A Bienal de São Paulo é a prova de que somos democráticos e pensamos em diversidade. Jovens, crianças, idosos e pessoas de todos os gêneros dividiram juntos o espaço coletivo que é a Bienal do Livro. Foram comercializados mais de 3 milhões de livros, para todos os públicos. Assim como tivemos obras literárias e mesas com autores, debates que contemplaram diversos assuntos.

HH – Uma outra bandeira importante do setor é a Lei Cortez, que quer regulamentar o varejo de livros no Brasil. A matéria está há algum tempo estacionada no Senado. Você acredita que temos chances de aprovação dessa Lei no Congresso?

VT – Para a Projeto de Lei avançar, precisamos de engajamento da nossa indústria e de todos os livreiros. Com certeza a partir do momento que o comprador de livros entender a proposta da lei muitos apoiarão e o PL vai avançar. É uma lei importante que vai ajudar a manter o varejo físico do livro. Não vamos tabelar o preço do livro. O que propomos é equilibrar os preços dos livros, uma vez que quando algum grande varejista faz promoções agressivas no preço final do exemplar desequilibra economicamente o varejo do livro e todo o setor perde.

A proposta da Lei é que todos os varejos, seja pela livraria física ou pelo site, mantenham o preço de capa do livro durante um ano após o lançamento da obra. Os livros de catálogo podem ter a estratégia comercial que a livraria achar mais pertinente.

HH – Ainda falando de Brasília, as entidades se articulam para lançar uma carta aos presidenciáveis. Quais os principais pontos levantados neste documento?

VT – A ideia é defender a política dos livros, de acesso à leitura e as políticas públicas voltadas ao mercado editorial, bem como os programas voltados à educação. A defesa da importância do livro, da educação e da leitura para se construir um país melhor.

HH – Além de presidente da CBL, você é um distribuidor. Qual o futuro deste segmento?

VT – Em um país continental como é o Brasil, há uma deficiência muito grande de acesso ao livro também em termos de logística. O distribuidor tem um papel muito importante, especialmente para o pequeno livreiro. Se o livreiro quiser ter todas as obras compradas pela editora ele vai precisar de um número alto de funcionários para estabelecer uma dinâmica e criar uma estrutura de compra via cada editora. Pelo distribuidor, ele escolhe os livros que quer comprar (de todas as editoras) e recebe de um distribuidor só. Se a livraria se consolida com um bom distribuidor, ela vai ter uma seleção de obras atualizadas e os lançamentos: o que a torna atrativa para o leitor – e poupa os custos do livreiro que quer ter em exposição obras recentes e vendáveis.

Hoje, existem plataformas de compras e vendas como B2B / B2C acessíveis que integram os estoques dos distribuidores ao acervo da livraria, tudo via web, o que ajuda muito os livreiros. Há ferramentas em que o livreiro de regiões mais afastadas pode vender o livro e já pedir para o distribuidor entregar diretamente ao seu cliente, até mesmo em outras regiões. Sem o distribuidor, o livreiro não teria acesso a um catálogo tão diversificado para oferecer aos seus clientes.

Próximas Turmas

Lista de cursos livres

Lista de cursos de pos-graducao

Alguns Colaboradores NESPE

Blog NESPE

Continue lendo outras Entrevistas & Ensaios

Bate-Papo com Gisele Corrêa Ferreira

[fusion_builder_container type="flex" hundred_percent="no" equal_height_columns="no" menu_anchor="" hide_on_mobile="small-visibility,medium-visibility,large-visibility" class="" id="" background_color="" background_image="" background_position="center center" background_repeat="no-repeat" fade="no"...

Continue lendo

Bate-Papo com Ana Elisa Ribeiro

[fusion_builder_container type="flex" hundred_percent="no" equal_height_columns="no" menu_anchor="" hide_on_mobile="small-visibility,medium-visibility,large-visibility" class="" id="" background_color="" background_image="" background_position="center center" background_repeat="no-repeat" fade="no"...

Continue lendo

Bate-Papo com Hada Maller

[fusion_builder_container type="flex" hundred_percent="no" equal_height_columns="no" menu_anchor="" hide_on_mobile="small-visibility,medium-visibility,large-visibility" class="" id="" background_color="" background_image="" background_position="center center" background_repeat="no-repeat" fade="no"...

Continue lendo

Bate-Papo com André Calgaro

André Calgaro é fundador e CEO da Narratix, um dos principais estúdios de narração de audiobooks no Brasil. Mas, mais do que isso, é um estudioso sobre o assunto. Acompanha tudo o que acontece pelo mundo, sempre atrás de tendências e novidades. Ele é o convidado do Happy Hour desta semana. Na conversa, ele faz uma avaliação...

Continue lendo

Bate-Papo com Dante Cid

[fusion_builder_container type="flex" hundred_percent="no" equal_height_columns="no" menu_anchor="" hide_on_mobile="small-visibility,medium-visibility,large-visibility" class="" id="" background_color="" background_image="" background_position="center center" background_repeat="no-repeat" fade="no"...

Continue lendo