Bate-Papo com André Calgaro

Entrevistas & Ensaios – NESPE

André Calgaro é fundador e CEO da Narratix, um dos principais estúdios de narração de audiobooks no Brasil. Mas, mais do que isso, é um estudioso sobre o assunto. Acompanha tudo o que acontece pelo mundo, sempre atrás de tendências e novidades. Ele é o convidado do Happy Hour desta semana. Na conversa, ele faz uma avaliação do mercado de audiolivros no país, fala sobre os custos de produção e ainda sobre a formação de narradores.

Happy Hour Nespe – Como você avalia a evolução do mercado de audiolivros no Brasil?

André Calgaro – Ele vem crescendo e evoluindo, assim como o áudio digital, conteúdos falados e as experiências auditivas, de modo geral. Pode-se notar isso ao identificarmos os grandes players que participam. Temos, essencialmente, as maiores editoras do mercado envolvidas (em menor ou maior grau) na produção de audiolivros, além de plataformas internacionais de importante destaque e influência.

Comparando, por exemplo, quando a Narratix iniciou, anos atrás, hoje o cenário é bem mais movimentado, existindo mais conhecimento, interesse e familiaridade sobre o formato.  Embora esteja longe de ser um mercado maduro, como os que vemos em outros países, a tendência é de crescimento e disseminação.

HH – Segundo editores, os custos de produção dos audiolivros é um entrave para o aumento do catálogo de títulos nesse formato. Você pode explicar um pouco o que compõe esses custos?

AC – Diferente do que ocorre com os e-books, em que é feita uma conversão, para os audiolivros é necessário, de fato, conceber uma nova produção. São muito aspectos envolvidos. Todos eles delicados e críticos em suas etapas: a preparação do manuscrito, gravação da narração, direção artística, edição, revisão, controle de qualidade e encoding. Fora outros aspectos, como o gerenciamento do projeto como um todo, envolvendo desde o controle de cronograma, até toda a gestão de arquivos, comunicação com o cliente, e com a equipe da produção, relatórios diversos etc.

Produzir um audiolivro de qualidade profissional, requer bastante esforço, tempo, uma equipe envolvida e tudo isso, claro tem um custo. Além disso, é uma atividade absolutamente criativa, artística, que demanda sensibilidade e atenção a várias nuances.

HH – Você percebe um barateamento desses custos no médio ou longo prazo?

AC – Creio que mais do que a redução de custos, o que tende a aumentar é o investimento nesse formato por parte dos criadores de conteúdo (como editoras), à medida em que ele passar a gerar um retorno financeiro mais significativo e constante, ficando então mais atrativo, nesse sentido, uma vez que a o investimento inicial pode ser uma barreira para pequenas e médias editoras.

Em relação a custos, não enxergo no momento muito aspectos que poderiam ser reduzidos, a não ser, claro, com o despontar de soluções tecnológicas que barateiem certas etapas da cadeia de produção, por exemplo.

HH – Você acompanha, muito de perto, o que acontece pelo mundo nesse segmento. Quais tendências você tem percebido?

AC – A mais bombástica é certamente o uso da inteligência artificial na narração. É cada vez maior o número de empresas focadas no desenvolvimento desse tipo de solução, inclusive grandes players. Isso tende a crescer em títulos de não-ficção, para certos nichos em que a qualidade artística da narração não seja tão relevante, e/ou em que o orçamento para produção seja mínimo.

Além disso, teremos certamente mais algumas inovações tecnológicas que devem auxiliar o processo de produção. Já temos visto movimentos de criação de tecnologias voltadas à melhoria de produção de audiolivros despontando, ainda que de forma incipiente, como por exemplo ferramentas para auxiliar a revisão, identificando pausas muito longas, trocas de palavras etc.

O surgimento de mais plataformas e editoras voltadas ao formato, em todo mundo, é certo, também. O que vai aguçar mais a competição. Contudo, devem existir mais oportunidades para geradores de conteúdo que ataquem nichos e se especializem neles.  A especialização também deve ocorrer cada vez mais com os profissionais atuantes no mercado, afastando amadorismos.

Existem também iniciativas interessantes surgindo para tornar mais tangível a experiência de audição de audiolivros e conteúdos em áudio, como, por exemplo, smart speakers voltados para crianças (como falei acima, nichos sendo buscados) e com mais interação física/tátil.

HH – A Narratix, além de um estúdio, tem formado uma geração de narradores. O que a pessoa precisa ter para ser um bom narrador de audiolivros?

AC – Sim, já iniciamos e formamos centenas de pessoas no universo da narração de audiolivros ao longo destes anos. Desde atores e atrizes sem experiência nenhuma no segmento, até artistas de voz mais consagrados em outras áreas, mas que nunca tinham narrado, pessoas de outros backgrounds/perfis, autores narrando suas próprias obras, personalidades famosas…

É bem óbvio, mas para ser um narrador de audiolivros, é preciso gostar de ler. Do contrário, a atividade não será gratificante para o narrador e isso se revelará de forma cristalina para que estiver ouvindo, já que há uma intimidade forte na relação narrador-ouvinte.

Depois, ter a qualidade principal, a artística, saber contar uma boa história, trazer o ouvinte para dentro dessa história ou da mensagem, conseguir construir momentos, arquitetar cenas, dar vida a diálogos, enfim, gerar emoção e interesse, tudo por meio da voz.

Além disso, temos alguns aspectos por vezes negligenciados, mas que para nós também são fundamentais, como comprometimento com prazos de entregas, ter boa e ágil comunicação. A produção de um audiolivro é um projeto que dura normalmente algumas semanas, ou até meses, então essa jornada precisa ser fluida.

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