Bate-Papo com Taissa Reis

Entrevistas & Ensaios – NESPE

Taissa Reis é um dos expoentes da nova geração de agentes literários brasileiros. Em sua agência, a Três Pontos, há nomes importantes da nova cena literária brasileira como Lucas Rocha, Eric Novello, Iris Figueiredo e Vitor Martins, que representam o que há de mais fresco na produção YA no país. Ela é a nossa entrevistada da semana. Na conversa, Taissa, que é também está no time de professores da pós-graduação em Escrita Criativa, falou sobre as negociações para audiovisual, avaliou o momento atual para o agenciamento literário e ainda listou características que autores precisam para alcançar o sucesso.

Happy Hour Nespe – Nos últimos anos, tem havido um crescimento do mercado de agenciamento literário no Brasil. Se até o início deste século, a função dos agentes literários se restringia, em sua maioria, à negociação de títulos estrangeiros, agora, há profissionais focados no mercado interno, em representar autores nacionais. Como você avalia este movimento?

Taissa Reis – Acredito que esse movimento mostre uma profissionalização do nosso mercado editorial, ao acomodar esses intermediários especializados. Já que o trabalho dos agentes na seleção de clientes funciona como um primeiro filtro, sua atuação facilita o trabalho dos departamentos de aquisição/editorial, além de tirar a carga das editoras de explicar os pormenores dos processos de publicação aos autores.

Esse crescimento também evidencia um maior interesse tanto das editoras, como dos leitores, em uma literatura escrita por brasileiros e para brasileiros, buscando uma identificação nas páginas em relação aos temas e cenários presentes nessas obras em vez de consumir apenas conteúdos traduzidos, que muitas vezes não têm tanta proximidade com as experiências cotidianas dos leitores daqui.

Também acredito que o aumento do número de agentes e, por consequência, do número de autores brasileiros representados, acaba por abrir mais um pouco o leque das editoras em relação ao perfil dos autores que têm a oportunidade de serem publicados – apesar de ainda estarmos muito longe de uma representação adequada da população brasileira se pensarmos em quem tem acesso à publicação tradicional.

HH – Você está à frente da Três Pontos, que tem no seu casting nomes como Lucas Rocha, Eric Novello, Iris Figueiredo e Vitor Martins. Em comum, autores muito jovens que formam uma nova cena da literatura YA no país. Quais características um autor que quer se enveredar por esse caminho precisa ter para chegar ao sucesso?

TR – A gente fala muito hoje sobre estratégias de promoção e divulgação dos autores brasileiros, principalmente em relação aos autores jovens, mas eu acho que existem dois pontos muito importantes que devem ser vistos como prioridade para novos escritores: entender o funcionamento do mercado editorial e… escrever.

Pode parecer simples, mas ao entender o como o processo de publicação de um livro funciona e quais são os atores do mercado, você acaba sabendo o que esperar em relação a processos, prazos etc e diminui a sua frustração em relação a um processo que é longo, cheio de avanços e retrocessos, e que não traz sucesso instantâneo, por melhor que seu livro seja. Conhecer o mercado também faz com que um escritor possa ver que não existe apenas um caminho para a publicação, que não existe apenas a publicação tradicional em grandes editoras, e entender qual modelo faz mais sentido para os seus objetivos.

Também é essencial que um escritor de fato escreva suas histórias antes de pensar em publicá-las. Muitas vezes eu vejo escritores em busca de contratos de publicação sem ter uma obra terminada, ou com obras que não se encaixam no que a pessoa quer publicar, e ter um ou mais manuscritos finalizados que se encaixem no perfil de publicação que você busca vai te ajudar a ter uma proposta mais robusta no momento de ser avaliado por um agente ou uma editora.

HH – Esse novo agenciamento literário vai um pouco além da pura negociação entre autores e casas editoriais. Passa a cuidar muito da carreira do escritor, negociando também participações em eventos, venda de direitos para outras linguagens (audiovisual e teatro, por exemplo…). É um filão a ser explorado?

TR – Assim como a demanda por histórias brasileiras aumentou no mercado editorial nos últimos anos, o audiovisual também tem trazido essa demanda a agentes e editoras e, por existem muitas similaridades nos dois processos em relação à negociação de direitos e contratos, é cômodo ao autor que seu agente literário faça parte do processo de cessão dos outros direitos relacionados ao livro. O produto livro é o cerne do trabalho de um agente, mas acredito que se ele tiver condições (de conhecimento e de tempo, principalmente) de trabalhar outras modalidades de exploração de direitos, essa expansão da visão do livro como um produto narrativo em vez de apenas um objeto físico ou digital beneficia a carreira de seus clientes como um todo.

A grande verdade é que é extremamente difícil um autor “viver de livro” apenas com as vendas de exemplares em livrarias. Os livros movimentam quantias pouco expressivas se pensarmos no mercado cultural como um todo, e essas outras modalidades de exploração, como a cessão de direitos audiovisuais e multimídia, a participação em feiras literárias, visitas escolares e outros eventos trazem não somente mais visibilidade à obra e ao autor, aumentando as vendas de livros, mas também a possibilidade desses profissionais dependerem menos de fontes de renda não relacionadas à escrita para se manterem em suas profissões.

HH – Você esteve, de certa forma, no embrião do Nespe. Foi aluna da pós-graduação da Universidade Cândido Mendes, onde o Nespe se originou. Hoje volta como uma das juradas do pitching da pós-graduação em Escrita Criativa. Como você avalia esse tipo de curso na formação de novos escritores?

TR – Se você tem a intenção de levar a escrita como carreira, ela demanda estudo como qualquer outra profissão, e cursos livres e de especialização em escrita e no mercado editorial ajudam a entender o que esperar do processo de publicação e da sua trajetória como autor. Apesar de não ser essencial ter uma formação em escrita para ser publicado, fazer esse tipo de curso e estudar mais sobre a multiplicidade de caminhos do mercado editorial acaba te trazendo mais discernimento para entender o que você quer alcançar como escritor, em vez de se deixar levar pelos objetivos e padrões de sucesso estabelecidos por outros autores, que podem não ser os mesmos que os seus.

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